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Você sabe o que é litíase renal?

A litíase renal, também conhecida como cálculo renal ou pedra no rim, é uma doença muito comum, podendo acometer até 16% dos homens e até 8% das mulheres. 

Nem todas as pessoas que possuem uma pedra formarão outras depois. No entanto, uma vez que se teve o primeiro cálculo, a probabilidade de ter o segundo é maior. De acordo com dados norte americanos, o risco de ter a segunda pedra é de:

  • Cerca de 15% em 1 ano
  • 35 a 40% em 5 anos 
  • Até cerca de 50% em 10 anos, caso não seja iniciado o tratamento adequado!

 

Bruna Rodrigues é médica nefrologista, especialista em doenças renais pela USP-SP.

litíase renal, pedras nos rins
Esquema renal com formação de pedras

Quem é o médico de pedra nos rins?

O médico que trata pedra nos rins é o Nefrologista.

A Dra Bruna Rodrigues é médica Nefrologista especialista em cálculos renais em São Paulo. 

Dra Bruna estudou 6 anos de faculdade e 4 anos de especialização em Clínica Médica e Nefrologia. Continua em constante atualização através de congressos, cursos e artigos científicos.

Atualmente ela é médica assistente do Serviço de Hemodiálise do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Bruna médica nefrologista

Qual a anatomia do sistema urinário?

A urina é produzida nos rins, saindo deles, a urina vai para a pelve renal e posteriormente para o ureter. O ureter é um conduto fino que leva a urina até a bexiga e geralmente é o local em que as pedras possuem maior dificuldade de passar. Após a bexiga, encontramos a uretra, outro canal fino, que permite o esvaziamento da bexiga durante a micção.

litiase renal, sistema urinário
Anatomia do sistema urinário

Qual o papel do nefrologista no tratamento das pedras nos rins?

O nefrologista é o clínico especialista em doenças renais e do sistema urinário. Ele é o responsável por investigar o motivo que o paciente tem litíase renal, descobrir o tipo de pedra e traçar o plano terapêutico para a evitar a formação de novos cálculos. 

O urologista é o cirurgião especialista em doenças renais e do sistema urinário. Ele atua em conjunto com o nefrologista nas orientações de como evitar a formação de novas pedras mas, principalmente, caso o paciente apresente complicações ou pedras muito grandes, que não possam ser eliminadas espontaneamente, ele será o cirurgião que realizará o procedimento para retirá-las.

Bruna Rodrigues é médica nefrologista, especialista em doenças nos rins pela USP-SP.

Nefrites e proteína na urina

Quais os tipos de pedras nos rins?

Podemos classificar os tipos de pedras nos rins por sua composição:

  1. Oxalato de cálcio
    1. O tipo mais comum
  2. Fosfato de cálcio
  3. Ácido úrico
  4. Fosfato de magnésio e amônio (estruvita)
    1. O tipo mais comumente associado a infecção urinária de repetição
    2. São, não raramente, cálculos grandes chamados de Coraliformes
  5. Cistina
    1. É um tipo de cálculo renal de causa hereditária / genética

O que são cálculos coraliformes?

São cálculos que preenchem toda ou parte da pelve renal e ramifica-se para vários ou todos os cálices. Na maior parte das vezes são cálculos de estruvita e costumam estar associados a infecção urinária de repetição.

Quais os fatores que aumentam o risco de ter litíase renal?

  • Baixo volume urinário, ou seja, baixa ingesta hídrica
    • Ao aumentar a quantidade de água ingerida, aumenta-se o fluxo urinário, o que dilui mais a urina e reduz a chance de se precipitar cristais que poderiam com o tempo formar o cálculo. Eu costumo sempre fazer a seguinte analogia nas consultas: ao colocarmos sal dentro de um copo que possui pouca água, facilmente ele acumula-se no fundo! Caso aumentemos a quantidade de água no copo, esse sal pode ser diluído e parar de aparecer! O raciocínio do mecanismo de formação das pedras nos rins pode ser considerado semelhante.
litiase renal, água
  • Aumento na quantidade de cálcio, ácido úrico, oxalato e/ou sal na urina, o que pode decorrer de:
    • Predisposição familiar
    • Alimentação inadequada:
      • Dieta rica em sódio (sal), que aumenta a eliminação de cálcio na urina
      • Dieta rica em carnes vermelhas, frutos do mar, doces e álcool, que aumentam a eliminação de ácido úrico na urina
      • Dieta rica em alimentos ricos em oxalato (ver abaixo)
Sal e litiase
  • Urina com pouco citrato, o que pode decorrer de:
    • Predisposição familiar
    • Alimentação pobre em frutas e potássio
    • Diarréia crônica com má absorção intestinal

 

Por que pouco citrato na urina leva a maior formação de cálculos? O citrato tem a função de ligar-se ao cálcio tornando-o mais facilmente solúvel. Por isso, a redução do citrato favorece maior formação de cristais de cálcio.

  • Infecções urinárias recorrentes
    • Existem bactérias que são produtoras de uma enzima chamada urease que, quando presentes na urina, produzem um ambiente urinário que predispõe a formação de cálculos. Caso hajam infecções repetidas por esses microrganismos, há risco acentuado de formação de pedras. Essa é a causa mais comum dos cálculos coraliformes. 
infecção urinária
  • Alterações anatômicas (malformações) do sistema urinário, como rim em ferradura, rins policísticos, estreitamento do ureter 
    • Essas doenças promovem alterações na estrutura do sistema urinário que, ao promover dificuldade de saída de urina, contribui para deposição de cristais e formação de cálculos
  • Predisposição familiar
  • Outras doenças:
    • Gota
      • Doença que cursa com aumento de ácido úrico no sangue e na urina, favorecendo precipitação e formação de cálculos de ácido úrico
    • Obesidade
      • É comprovado por estudos que um estilo de vida saudável e a perda de peso reduzem a formação de novas pedras nos rins
    • Hiperparatireoidismo primário
      • Consiste em um distúrbio hormonal relacionado à glândula paratireóide que promove aumento de cálcio no sangue e na urina
    • Acidose tubular renal (ATR)
      • Podem existir várias causas para a ATR assim como existem diferentes tipos. São doenças que cursam com uma urina ácida que predispõe a precipitação de cristais e, consequentemente, a formação de cálculos
    • Doenças intestinais que reduzem absorção dos nutrientes (como doença inflamatória intestinal)
      • São doenças que por reduzirem absorção de cálcio, decorrente da má absorção de gordura, aumentam absorção de oxalato (que costumam estar ligado ao cálcio), favorecendo aumento da eliminação de oxalato na urina e, consequentemente, aumento do risco de formação de pedras
    • Diabetes
    • Pressão alta
 
  • Uso de medicamentos:
    • Existem medicamentos que podem favorecer a formação de cálculos por alterar a acidez da urina ou alterar concentração de cálcio e oxalato na urina

 

Na consulta é avaliada toda a história do paciente, momento de início das crises ou do diagnóstico, outras doenças que possui, medicamentos que utiliza, história familiar, procedimentos cirúrgicos que já fez. Dessa forma, conseguimos levantar hipóteses e é decidido o plano de investigação complementar com exames de sangue, urina e de imagem. Saiba mais sobre esses exames.

 

Quais os sintomas da litíase renal?

  • Cólica renal
    • Classicamente o quadro de crise de pedras nos rins são dores na região lombar (porção inferior das costas) em cólica com irradiação para o baixo ventre (para a bexiga) ou para região perineal (lábios genitais na mulher ou testículos nos homens). Costumam ser dores de forte intensidade, por vezes, acompanhada de enjoos ou vômitos.
      • Essa dor decorre da dificuldade da pedra conseguir passar pelo sistema urinário, principalmente na região do ureter 
  • Sangramento em urina (hematúria)
    • Por vezes, a pedra pode ferir o sistema urinário e provocar sangramento, fazendo com que a urina saia de cor escurecida/ avermelhada
  • Dificuldade para urinar
    • Especialmente quando os cálculos estão próximos à saída da uretra, pode causar a sensação de dificuldade de eliminar urina, justamente pela obstrução da saída da bexiga pela pedra
  • Eliminação de cálculos
    • Existem pessoas que conseguem visualizar a eliminação das pequenas pedras na urina
  • Infecção urinária de repetição
    • Nesse contexto, ao realizar exame de imagem (como ultrassom ou tomografia) para a investigação do motivo de se ter infecção de forma repetida, pode se identificar cálculos no sistema urinário

 

Não é incomum também a realização do diagnóstico de pedras nos rins após realização de exames de imagem, na ausência de sintomas (exame de rotina) ou por outro motivo (que não suspeita de cálculo renal) e serem identificadas a presença de pedras. São os casos de litíase renal assintomática.

Você sente algum desses sintomas? Bruna Rodrigues é médica nefrologista, especialista em doenças renais pela USP-SP. Ela pode te ajudar com isso.

sintomas de litiase renal

Atenção: as orientações abaixo não substituem uma consulta com o Nefrologista, possuem o intuito de orientar e ajudar os pacientes que necessitam de informações.

Diagnóstico de pedras nos rins

O diagnóstico da litíase renal é confirmado por um exame de imagem dos rins e vias urinárias, geralmente um ultrassom ou tomografia computadorizada. Ambos são ótimos para visualização dos cálculos e possíveis complicações. No entanto, a tomografia é capaz de visualizar mesmo as pedras muito pequenas.

Ao identificá-las, especialmente se houver mais de uma pedra, é importante tentarmos descobrir qual a sua composição para, então, traçarmos o plano para evitar a formação de novas. Isso pode ser realizado através de:

  • Exames de sangue
  • Exames de urina de 24 horas
  • Análise da pedra eliminada ou retirada
anatomia urinária e proteina na urina

Complicações

Além dos sintomas bastante incômodos que a litíase renal pode ocasionar, essa doença pode evoluir com complicações mais sérias, entre elas:

  • Obstrução da saída de urina
    • Quando as pedras formadas são grandes demais para conseguirem ser eliminadas espontaneamente (geralmente maiores que 1cm), elas ficam presas no sistema urinário, obstruindo a saída da urina. Isso gera importante pressão nos rins, com dilatação e dor, além de poder ocasionar prejuízos ao funcionamentos dos rins e aumentar o risco de desenvolver infecção urinária associada
  • Infecção urinária
  • Perda de funcionamento dos rins
    • Obstruções repetidas dos rins ou pedras muito grandes podem ir aos poucos machucando os rins e comprometendo o seu funcionamento, levando à doença renal crônica.

Tratamento não cirúrgico de litíase renal

O que TODOS os pacientes que já tiveram pedras nos rins precisam saber? 

  • O aumento da ingestão hídrica reduz a formação de pedras! 
  • Um estilo de vida saudável, evitando o excesso de peso e alimentando-se de forma equilibrada, reduz o risco de novos cálculos

 

Caso tenha sido identificada alguma causa reversível na investigação, iremos tratá-la. 

  1. Um exemplo: se houver o diagnóstico de cálculos de oxalato de cálcio por causa de hiperparatireoidismo primário, será necessário tratá-lo. Geralmente, o tratamento é realizado com cirurgia para retirar a porção da paratireóide (uma glândula que fica ao lado da tireóide) que está produzindo muito hormônio.
  2. Outro exemplo: se está relacionado ao uso de algum medicamento, iremos avaliar a possibilidade de suspendê-lo. Sempre avaliando o risco e o benefício da utilização da medicação.

 

A depender da análise da urina de 24h ou do cálculo, traçaremos os demais cuidados que devemos ter:

  • Se os  cálculos forem de cálcio ou a urina tiver muito cálcio, deve-se:
    • Restringir o sódio (sal) da alimentação e, na consulta médica, será avaliada a necessidade de tratamento com medicação
    • Atenção: não se deve restringir cálcio na alimentação! A redução do consumo de alimentos ricos em cálcio leva a maior eliminação de oxalato na urina, contribuindo para a formação de novas pedras! 
  • Se houver pouco citrato na urina, deve-se:
    • Otimizar a ingestão de alimentos ricos em citrato e avaliar se é necessário o início de medicação
  • Se o cálculo for de oxalato, deve-se restringir o consumo de alimentos ricos em oxalato
litiase nenal e pedras nos rins

Quando pode ser necessário tratamento cirúrgico?

  1. Quando há alguma das complicações acima citadas (obstrução do sistema urinário e/ou infecção) – geralmente requerendo urgência para procedimento;
  2. Quando o cálculo é grande e a probabilidade de ser eliminado espontaneamente é pequena;
  3. Cálculos coraliformes

 

Existem diferentes métodos de abordagem para a retirada da pedra. A escolha pelo método do procedimento é realizada pelo cirurgião do sistema urinário, o urologista. Em geral, leva-se em consideração:

  • A localização do cálculo
  • O tamanho do cálculo
  • A presença de complicações associadas
  • A dureza da pedra (geralmente estimada pela tomografia)
  • A presença de comorbidades: gravidez, obesidade, risco de sangramento

Como reduzir o sal da alimentação?

Entre os alimentos ricos em sódio, podemos citar:

  • Embutidos em geral (presunto, mortadela, bacon, linguiça, salame, salsicha)
  • Peixes processados e salgados (sardinha, atum, salmão, bacalhau)
  • Carne seca
  • Enlatados em conserva (milho, ervilha, azeitonas, picles, palmito)
  • Temperos e molhos prontos

Esses alimentos devem ser evitados.

Os temperos e os alimentos devem ser o mais naturais possíveis, além disso, o sal acrescentado ao alimento deve ser o mínimo possível.

A recomendação é que os pacientes com pedras nos rins formadas por cálcio não consumam mais que 5 gramas de sal por dia (aproximadamente 1 colher de chá), o que corresponde ao máximo de 2 gramas de sódio por dia.

Quais são os alimentos ricos em citrato?

  • Laranja
  • Limão
  • Abacaxi
  • Acerola

 

Caso haja pouco citrato na urina e os rins funcionarem adequadamente, aumentar o consumo desses alimentos pode ajudar a prevenir a formação de novas pedras nos rins.Na consulta é realizada essa avaliação. Bruna Rodrigues é médica nefrologista, especialista em doenças renais pela USP-SP.

Quais são os alimentos ricos em oxalato?

  • Abacate
  • Toranja
  • Laranja
  • Kiwi
  • Framboesa
  • Frutas secas em geral
  • Beterraba
  • Quiabo
  • Azeitona
  • Arroz integral
  • Espinafre
  • Molho de tomate
  • Nabo
  • Inhame
  • Batata
  • Farinha
  • Fubá/ Cuscuz
  • Farelo de arroz
  • Oleaginosas em geral, como amêndoa, castanha de caju e avelã
  • Chá mate e chá preto

 

Por isso, caso haja excesso de oxalato na urina, o consumo excessivo desses alimentos deve ser evitado. Essa avaliação é realizada na consulta com o médico nefrologista.

Atenção, é importante reforçar que dietas excessivamente restritivas são perigosas e o cálculo da ingestão diária desses nutrientes devem sempre ser orientadas pelo nutricionista.

Você sabia?

O consumo de altas doses de Vitamina C pode aumentar o risco de litíase renal por elevar a excreção de oxalato na urina. 

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Fontes

2 respostas

  1. Excelente e abrangente abordagem sobre cálculo renal, com muitas orientações importantes para se evitar a formação desses cálculos.
    Obrigado pelas dicas!

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