Índice
Proteína na urina e as Nefrites
Talvez você já tenha ouvido falar das nefrites ou conhecido pessoas que perdem proteína na urina.
Vamos entender um pouco mais sobre isso?
Proteína na urina
Nas consultas costumo fazer a seguinte analogia para um melhor entendimento: os nossos rins são como uma peneira e, em determinadas doenças renais, os orifícios acabam se tornando muito “largos” e permitem passar moléculas que não deveriam, como as proteínas.
Pequenas quantidades de proteína na urina, cerca de 150 mg por dia, podem ser consideradas normais. Perdas de proteína acima desses valores ou se forem de tipos específicos, como a albumina ou gamaglobulinas, devem ser investigadas.
Caso queira saber mais sobre exames para detectar problemas nos rins clique aqui.
Quais as causas de proteína na urina? Qual sua relação com as “nefrites”?
Quem em geral faz essa função de “peneira” no nosso rim é uma estrutura chamada glomérulo. É uma estrutura bem pequena que tenta separar aquilo que deve sair ou não na urina. Doenças que afetam o glomérulo são chamadas de glomerulopatias, popularmente conhecidas como “nefrites”. Uma vez doente, inflamada, essa estrutura permite passar maior quantidade de proteína e, às vezes, também sangue.
Toda perda de proteína na urina deve ser avaliada por um médico especialista em rins, o nefrologista. Dra Bruna é especialista em doenças renais pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Existem causas de proteína na urina que são “benignas” e que não interferem muito na vida do paciente, enquanto há outras que possuem graus variáveis de gravidade e urgência em diagnóstico e tratamento.
Entre as “benignas” podemos citar aquelas que podem dar alteração no exame sem de fato significar uma doença, como a proteína na urina por ficar longos períodos em pé antes da coleta do exame. Nesse caso, sempre são quantidades muito pequenas de proteína, além de que, em geral, causam uma perda transitória de proteína na urina. Por isso, grandes esforços físicos na véspera da coleta do exame de urina devem ser evitados!
Entre as possíveis causas patológicas de perda de proteína na urina, podemos citar:
- Diabetes
- Hipertensão (pressão alta)
- Alterações anatômicas do sistema urinário
- Obesidade
- Infecções
- Medicamentos
- Nefropatia por IgA
- Lúpus
- Vasculite ANCA
- Doenças hematológicas (do sangue), como Amiloidose e Mieloma Múltiplo
- Câncer
- Doenças hereditárias
- Síndromes nefróticas primárias
Como vocês podem ver, existem várias causas que podem acometer diferentes idades e gêneros, por isso, sempre devem ser avaliadas pelo médico nefrologista.
Quem é o médico de proteína na urina e nefrites?
O médico que investiga proteína na urina e trata nefrites é o Nefrologista.
A Dra Bruna Rodrigues é médica Nefrologista especialista em doenças renais em São Paulo.
Dra Bruna estudou 6 anos de faculdade e 4 anos de especialização em Clínica Médica e Nefrologia. Continua em constante atualização através de congressos, cursos e artigos científicos.
Atualmente ela é médica assistente do Serviço de Hemodiálise do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Por que o nome certo não é nefrite?
Nefrite vem do grego “nephrós” que significa “rim” + “itis” que significa inflamação. Como vocês devem imaginar, nem todas as doenças acima inflamam o rim. Existe uma grande variedade de mecanismos através do qual elas afetam os rins. No entanto, todas elas promovem alterações no glomérulo, daí vem o nome “glomerulopatias”.
Atenção: as orientações abaixo não substituem uma consulta com o Nefrologista, possuem o intuito de orientar e ajudar os pacientes que necessitam de informações.
Diabetes
A diabetes é uma doença que pode afetar diferentes órgãos, entre eles os rins.
No mundo, a diabetes é a principal causa de doença renal crônica e necessidade de diálise.
O aumento persistente dos níveis de glicose no sangue vai, ao longo dos anos, machucando a parede dos vasos:
- Da retina dos olhos, causando a retinopatia diabética
- Dos nervos, causando a neuropatia diabética
- Dos rins (o glomérulo), causando a nefropatia diabética
- Do coração, aumentando risco de infarto
Por isso, é tão importante controlar a diabetes! Isso permite reduzir o risco de ocorrerem todas essas complicações!
O principal mecanismo pelo qual a diabetes afeta os rins é através da lesão do glomérulo e, por isso, geralmente, o primeiro sinal de doença no rim por causa da diabetes é a perda de proteína na urina. Logo que identificada, deve-se intervir imediatamente:
- Reforçar o controle da diabetes
- Avaliar o início de medicações que irão reduzir a perda de proteína na urina
Isso pode evitar que a perda de proteína na urina aumente progressivamente e, junto com isso, haja lesão do rim com perda progressiva de funcionamento e, consequentemente, redução da chance de evolução para estágios avançados da doença renal crônica.
Bruna Rodrigues é médica especialista em doenças renais pela USP-SP.
Hipertensão
A pressão alta é uma doença que pode afetar diferentes órgãos, entre eles os rins.
No Brasil, a pressão alta é a principal causa de doença renal crônica e diálise. No mundo, é a segunda maior causa (ficando atrás da diabetes).
O aumento persistente dos níveis de pressão arterial machuca, ao longo dos anos, a parede dos vasos:
- Da retina dos olhos, causando a retinopatia hipertensiva
- Dos rins, causando a nefropatia hipertensiva
- Do coração, aumentando risco de infarto
- Do cérebro, aumentando o risco de derrame/ AVE
Por isso é tão importante controlar a pressão! Isso permite reduzir o risco de ocorrerem todas essas complicações!
A pressão alta faz o rim ficar sobrecarregado, por isso, geralmente associada a outras doenças, é uma causa importante de aumento de perda de proteína na urina . Além disso, todo órgão que é sobrecarregado por muito tempo em algum momento pode começar a mostrar sinais de insuficiência.
Você sabia?
A pressão alta e a diabetes são doenças que causam poucos sintomas! O que torna a situação ainda mais preocupante, pois aumenta o risco de só se descobrir essas doenças quando já comprometeram outros órgãos, como os rins.
Elas são as principais causas de doença renal crônica, que também é uma doença que cursa com poucos sintomas em sua fase inicial.
Então entenda:
- Você deve fazer exames de rotina e deve aferir a pressão periodicamente, especialmente se já tem mais de 40 anos!
- Se você tem hipertensão e/ou diabetes, você deve realizar pelo menos anualmente exames de sangue e de urina.
Realizando o diagnóstico precoce, o tratamento correto e obtendo um controle adequado dessas doenças, é possível evitar a lesão dos nossos órgãos. Dra Bruna Rodrigues pode te ajudar com isso.
Alterações anatômicas do sistema urinário
Em alguns casos, as alterações na anatomia do sistema urinário podem causar perda de proteína na urina:
- Rim único
- É possível viver com apenas um rim sem problema algum. Por mais que esse único rim trabalhe em um regime de hiperfiltração para dar conta da função que os 2 fariam, cuidando adequadamente, ele consegue dar conta do recado a vida toda! No entanto, especialmente quando há outras comorbidades, como hipertensão, diabetes ou obesidade, ele pode acabar se sobrecarregando e um dos sinais dessa sobrecarga é a proteína na urina;
- Refluxo vesicoureteral, infecção urinária de repetição, pedras nos rins
- São doenças que podem ir ao longo da vida machucando os rins e ocasionando perda de tecido renal saudável. Com isso, o restante do rim se sobrecarrega, podendo ser uma causa de perda de proteína na urina;
Obesidade
A obesidade comumente está associada a outras doenças, por exemplo, há um aumento do risco de pressão alta e diabetes. No entanto, ela por si só também é uma causa de sobrecarga dos rins, por isso, também pode ser considerada uma causa de perda de proteína na urina.
Infecções
As infecções podem ser causas de inflamação nos rins, fazendo com que eles deixem passar proteínas ou sangue para a urina. Isso pode acontecer no contexto de:
- Infecção no rim propriamente dita, a Pielonefrite;
- Infecções sistêmicas, isto é, que estão em uma parte do corpo mas que geram resposta inflamatória nele como um todo, podendo gerar repercussões nos rins, ou seja, perda de proteína e/ou sangue na urina. Por exemplo:
- Glomerulonefrites associadas a infecções no coração (endocardites), a infecções ósseas (osteomielites) ou a abscessos em qualquer parte do corpo;
- Glomerulonefrites pós-estreptocócicas, que podem ocorrer após infecções bacterianas de garganta ou pele;
- Glomerulopatias associadas à infecção por:
- Vírus da Hepatite B
- Vírus da Hepatite C
- Vírus do HIV
- Sífilis
- Esquistossomose
- Malária
Importante reforçar que nem toda vez que essas infecções forem diagnosticadas, haverá alterações nos rins! No entanto, se houver proteína, sangue e/ou perda do funcionamento do rim no contexto desses diagnósticos, essas doenças podem ser as responsáveis.
Nesse caso, o tratamento da infecção será essencial para a melhora das alterações renais.
Medicamentos
Os rins são responsáveis por eliminar boa parte das substâncias geradas a partir da metabolização dos medicamentos que ingerimos.
Além disso, alguns medicamentos podem causar alteração no funcionamento dos rins por diferentes mecanismos.
Por isso, sempre digo que quem tem problema renal deve evitar se automedicar. Perguntar ao seu médico nefrologista se pode tomar determinado remédio ou mesmo suplemento ou fitoterápico, NUNCA É DEMAIS.
Existem medicamentos que podem ainda promover perda de proteína na urina ou mesmo sangue. Importante ressaltar que nem sempre essas medicações vão afetar os rins e que, caso elas sejam utilizadas para o tratamento de alguma doença específica, podem estar sendo a solução dos seus problemas e não a causa da doença renal.
Além disso, por vezes, essas medicações podem até trazer alterações nos rins, mas por serem leves e causarem pouca repercussão, talvez o benefício faça valer a pena seu uso. Nesse caso, o papel do médico nefrologista é pesar o risco e o benefício de manter o uso desse remédio.
Nefropatia por IgA
Consiste em uma doença em que uma partícula que habitualmente nosso corpo produz para nos defender, a Imunoglobulina do tipo IgA, torna-se anômala e começa a se depositar nos rins.
Isso ocorre por um misto de predisposição genética (no entanto raramente há transmissão familiar, ou seja, o mais comum é não ser uma doença hereditária) somado a alguma exposição ambiental, como uma infecção viral.
É a glomerulopatia primária ou idiopática (ou seja, que a causa da doença ainda é pouco conhecida) mais comum, podendo acometer, segundo dados norte-americanos, até 2.5 pessoas a cada 100.000 habitantes.
Acomete principalmente adultos jovens, mas o diagnóstico pode ser realizado em diferentes idades.
Apesar da maior parte das vezes a Nefropatia por IgA ser idiopática, existem casos:
- Hereditários
- Podendo corresponder até a 5 – 15% dos casos
- Secundários a outras doenças, como a:
- Cirrose hepática
- Doença celíaca
- Púrpura de Henoch-Scholein
- Espondilite anquilosante
- Infecção pelo HIV
Como essa doença costuma se apresentar?
- Proteína e sangue encontrados no exame de urina
- Sangramento visível na urina, especialmente durante episódios de infecção viral (viroses)
- Perda de funcionamento do rim
- Inchaço
- Aumento de pressão arterial
- Espuma na urina
Como se faz o diagnóstico?
Diante de tais sintomas clínicos ou alterações em exames laboratoriais, considerando a idade do paciente e excluindo outras causas para esses achados através de exames, pode-se suspeitar do diagnóstico de Nefropatia por IgA. No entanto, o diagnóstico definitivo é por Biópsia Renal.
Esse diagnóstico costuma ser realizado pelo médico nefrologista. Dra Bruna Rodrigues é nefrologista pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Qual é o tratamento?
O foco do tratamento é tentar reduzir ao máximo a perda de proteína na urina, isso se consegue através:
- Controle da pressão arterial
- Introdução de medicações que possuem potencial de reduzir a perda de proteína na urina
- Controle de outras comorbidades, se presentes: obesidade, diabetes
- Avaliar risco e benefício de tratamento imunossupressor
Essa avaliação é realizada pelo médico nefrologista. Dra Bruna Rodrigues é nefrologista pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Prognóstico
É uma doença que possui graus variáveis de gravidade. Existem pacientes cuja perda de funcionamento do rim é mais lenta e outros, mais rápida. Em geral, se conseguirmos com o tratamento controlar a perda de proteína na urina é um bom sinal. Por isso, o diagnóstico e o tratamento precoce são tão importantes.
Lúpus eritematoso sistêmico
Lúpus é uma doença autoimune, ou seja, é uma doença em que o nosso sistema imunológico começa a entender tecidos/ órgãos do nosso corpo como “estranhos” e então começa a reagir contra eles, causando inflamação. É uma doença sistêmica, logo, pode acometer diferentes órgãos, entre eles os rins.
Por que isso acontece? Ainda não é muito claro, no entanto, parece ter um componente de predisposição genética e de algum gatilho ambiental (infecção viral, exposição ao sol, produtos industrializados). Importante reforçar que apesar desse componente genético, geralmente não é hereditário.
O Lúpus acomete principalmente mulheres jovens.
Como essa doença costuma se apresentar?
Quanto às alterações que sugerem acometimento dos rins pelo lúpus, podemos citar:
- Proteína e sangue encontrados no exame de urina
- Perda de funcionamento do rim
- Inchaço
- Aumento de pressão arterial
- Espuma na urina
No entanto, frequentemente há outros sinais e sintomas associados, ou seja, pode ocorrer acometimento de mais de um órgão ao mesmo tempo:
- Alterações na pele
- Dores articulares
- Queda de cabelo
- Machucados na boca
- Acúmulo de líquido no pulmão ou coração
- Anemia
- Alterações neurológicas
A depender dos órgãos que são acometidos, assim como da intensidade de inflamação deles, a gravidade da doença é bastante variável, podendo haver quadros de lúpus leves até quadros mais graves.
Como se faz o diagnóstico?
Diante de tais achados, solicitamos exames laboratoriais de sangue e de urina e podemos suspeitar do diagnóstico ou até mesmo, a depender da gravidade, já iniciar o tratamento.
No entanto, diante de sinais de acometimento renal é essencial realizar a Biópsia Renal para o diagnóstico definitivo, assim como para sabermos a gravidade do acometimento do rim e definirmos o plano de tratamento.
Esse diagnóstico costuma ser realizado pelo médico nefrologista. Dra Bruna Rodrigues é nefrologista pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Qual o tratamento?
O tratamento do lúpus depende dos órgãos que são acometidos. Geralmente, quando falamos do acometimento renal, ou seja, da Nefrite Lúpica é um acometimento potencialmente grave, que requer tratamento imunossupressor precoce e rigoroso.
O esquema de tratamento imunossupressor é definido a depender da gravidade do acometimento renal. Para isso, avaliamos se há apenas proteína na urina ou há também sangue e perda de funcionamento dos rins, com isso, definimos o tratamento inicial. Com o resultado da biópsia renal em mãos, podemos mudar o tratamento ou mantê-lo.
O que é “imunossupressor”? É uma medicação que reduz a atividade do nosso sistema imunológico na intenção de reduzir a atividade dele contra os órgãos, consequentemente, reduzindo a inflamação deles.
A decisão de qual medicação utilizar para o tratamento do acometimento renal e por quanto tempo é realizada pelo médico nefrologista. Dra Bruna Rodrigues é nefrologista pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Prognóstico
É uma doença que possui graus variáveis de gravidade. Existem pacientes que se apresentam principalmente com perda de proteína na urina e inchaço, sem perda de funcionamento do rim; outros se apresentam já em falência renal e necessidade de diálise.
O diagnóstico e o tratamento precoce são essenciais para permitir que essas alterações sejam reversíveis.
Vasculite ANCA
A Vasculite associada ao ANCA é uma doença que se caracteriza pela inflamação dos vasos de diferentes sistemas do corpo, como do sistema respiratório, do rim e, por vezes, de nervos.
Por que isso acontece? Ainda não é muito claro, no entanto, parece ter um componente de predisposição genética e de algum gatilho ambiental (infecção bacteriana, produtos industrializados). Importante reforçar que apesar desse componente genético, geralmente não é hereditário.
A Vasculite ANCA acomete principalmente os idosos.
Como essa doença costuma se apresentar?
Quanto às alterações que sugerem a inflamação dos vasos dos rins (do glomérulo), podemos citar:
- Proteína e sangue encontrados no exame de urina
- Perda de funcionamento do rim
- Inchaço
- Aumento de pressão arterial
- Espuma na urina
No entanto, é frequente haver outros sinais e sintomas associados, como:
- Indisposição
- Perda de apetite e peso
- Sinusite e/ou otite crônica
- Tosse com sangue
- Dormências de mãos e pés
- Anemia
Como se faz o diagnóstico?
Diante de tais achados, solicitamos exames laboratoriais de sangue e de urina e podemos suspeitar do diagnóstico e até mesmo, a depender da gravidade, já iniciar o tratamento.
No entanto, diante de sinais de acometimento do rim é essencial realizar a Biópsia Renal para o diagnóstico definitivo.
Esse diagnóstico costuma ser realizado pelo médico nefrologista. Dra Bruna Rodrigues é nefrologista pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Qual o tratamento?
O tratamento da Vasculite ANCA depende dos órgãos que são acometidos. Geralmente, o acometimento renal é grave e requer tratamento imunossupressor precoce e rigoroso.
O esquema de tratamento imunossupressor é definido a depender do perfil de cada paciente e da disponibilidade da medicação.
O que é “imunossupressor”? É uma medicação que reduz a atividade do nosso sistema imunológico na intenção de reduzir a atividade dele contra os órgãos, consequentemente, reduzindo a inflamação deles.
A decisão de qual medicação utilizar para o tratamento do acometimento renal e por quanto tempo é realizada pelo médico nefrologista. Dra Bruna Rodrigues é nefrologista pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Prognóstico
É uma doença grave que, na ausência de diagnóstico e tratamento precoce, a progressão para falência renal e necessidade de diálise pode ser rápida.
Amiloidose e Mieloma Múltiplo
São doenças de origem hematológica, ou seja, do sangue, em que células do sangue, os plasmócitos, tornam-se anômalos e começam a produzir muita imunoglobulina (uma proteína de defesa) também anômala. Essas proteínas em excesso e doentes começam a se depositar nos órgãos, como nos rins.
Pelo mecanismo relativamente parecido de desenvolvimento, a Amiloidose e o Mieloma Múltiplo são doenças que podem se apresentar de forma conjunta ou independente.
São doenças que acometem principalmente adultos mais velhos ou idosos.
Como essas doenças costumam se apresentar?
Do ponto de vista renal, a Amiloidose pode ser apresentar com:
- Perda de proteína na urina
- Inchaço
- Queda da pressão arterial
- Espuma na urina
No entanto, pode ter outros acometimentos como:
- Aumento do tamanho da língua
- Alterações em nervos com dormências
- Alterações em pele
- Alterações cardíacas
- Anemia
Quanto ao Mieloma Múltiplo, do ponto de vista renal, pode se apresentar com:
- Perda de funcionamento do rim
- Perda de proteína na urina
- Aumento dos níveis de cálcio no sangue
No entanto, também pode ter outros acometimentos como:
- Anemia
- Alterações ósseas, como fraturas
Como se faz o diagnóstico?
Diante de tais achados, solicitamos exames laboratoriais de sangue e urina e podemos suspeitar do diagnóstico e até mesmo, a depender da gravidade, já iniciar o tratamento.
Quando suspeitamos do Mieloma Múltiplo, o diagnóstico pode ser realizado sem biópsia renal, no entanto geralmente sempre é realizado mielograma e/ou biópsia de medula óssea pelo médico Hematologista (especialista em sangue). Caso haja alguma dúvida, podemos considerar biópsia do rim.
Quanto a suspeita é Amiloidose, geralmente é realizada biópsia renal para o diagnóstico. A avaliação complementar da medula óssea pelo Hematologista geralmente é realizada para avaliar o diagnóstico concomitante ou não pelo Mieloma Múltiplo.
Dra Bruna Rodrigues é nefrologista pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Qual o tratamento?
O tratamento de ambas as doenças é realizado pelo médico hematologista através de quimioterapia.
O médico nefrologista tem o papel de auxiliar no diagnóstico e acompanhamento das alterações renais que a doença ocasiona. Por exemplo, no controle do inchaço, no ajuste das complicações decorrentes da perda de funcionamento dos rins ou mesmo diálise, na redução dos níveis de cálcio no sangue e entre outros.
Prognóstico
Em geral é uma doença grave mas que pode ter cura. Requer acompanhamento rigoroso com o médico Hematologista além de, diante do acometimento renal, também pelo médico nefrologista.
Atenção: existem outros tipos de amiloidose, como aquelas que podem estar relacionadas a doenças inflamatórias crônicas ou aquelas que são doenças hereditárias. Essas não estão sendo contempladas nesse texto.
Câncer
Pode acontecer de determinados cânceres (neoplasias) que, por mecanismos diversos, ocasionam alterações renais, mesmo à distância. É como se o tumor produzisse uma substância que pode se depositar no glomérulo causando alterações que fazem com que essa barreira deixe passar moléculas que não deveria, como as proteínas.
Isso pode acontecer após o paciente já ter o diagnóstico do câncer, por exemplo:
- O paciente já sabe que tem um câncer de próstata e começa a inchar, na investigação do inchaço descobre que ele tem uma glomerulopatia secundária à neoplasia (o mais comum);
Ou pode acontecer de, na investigação de causas para a doença no rim, descobrir o diagnóstico do câncer, por exemplo:
- O paciente teve o diagnóstico da Glomerulopatia Membranosa e, como ele tinha mais de 50 anos, optou-se por realizar Colonoscopia para rastreio de Câncer de Cólon (intestino) e acabou se descobrindo o diagnóstico desse tumor;
Qual o tratamento?
Quando a doença está relacionada à ocorrência de um câncer, o tratamento deve ser principalmente direcionado a esse tumor.
No entanto, é essencial o acompanhamento concomitante com nefrologista para controle dos sintomas decorrentes das alterações renais, como o inchaço.
Síndromes nefróticas primárias
É um grupo de doenças que se caracterizam por:
- Grande perda de proteína na urina
- Espuma na urina
- Inchaço
- Aumento dos níveis de colesterol no sangue
Para concluirmos que essa doença é “primária”, excluímos, através de investigação, que não tem nenhuma das causas descritas acima (infecciosa, medicamentosa, lúpus ou câncer).
Essa doença “primária” parece decorrer de predisposição genética em conjunto com algum gatilho externo que pode ser uma infecção, exposição a produtos industrializados e entre outros.
Existem vários tipos:
- Lesão mínima
- Acomete principalmente os mais jovens
- Glomeruloesclerose segmentar e focal
- É o tipo mais comum de síndrome nefrótica e acomete principalmente jovens e adultos
- Glomerulopatia membranosa
- É o segundo tipo mais comum e acomete principalmente adultos mais velhos e idosos
- Glomerulonefrite membranoproliferativa
Nos adultos, essa distinção só pode ser realizada por biópsia renal e a definição do diagnóstico é essencial para definir o tratamento correto.
Essas doenças são diagnosticadas e tratadas pelo médico Nefrologista.
Qual o tratamento?
O tratamento depende do tipo de sindrome nefrótica, no entanto, os casos “primários” em geral são tratados com imunossupressores.
A escolha depende do resultado da biópsia renal e das manifestações clínicas e laboratoriais que o paciente apresenta.
Doenças hereditárias
Existem doenças que ocasionam perda de proteína e sangue na urina que são hereditárias, ou seja, são passadas dos pais (mãe ou pai) para os filhos. Apesar da alteração genética ser a mesma, os pais podem ter sintomas ou não, assim como, se os pais tiverem manifestações da doença, podem ter gravidade distinta das dos filhos.
As doenças que mais frequentemente podem ser genéticas/hereditárias são:
- Doenças do Colágeno IV:
- Um exemplo é a Doença de Alport:
- É uma doença que, geralmente (o tipo mais comum), é passada da mãe para os filhos homens. Nas mulheres é uma doença pouco sintomática, apresentando sintomas mais graves no sexo masculino;
- Esse subtipo costuma cursar com:
- Perda auditiva (surdez)
- Alteração renal que pode ser:
- Perda de sangue e proteína na urina
- Perda de funcionamento dos rins (insuficiência renal)
- Um exemplo é a Doença de Alport:
- Glomeruloesclerose focal e segmentar (GESF) genética
- Geralmente doença grave e que não responde bem aos tratamentos instituídos;
- Doença da membrana basal fina
- Geralmente é uma doença benigna que cursa apenas com perda de sangue na urina (geralmente detectada apenas nos exames de urina), sem perda proteína ou progressão para insuficiência renal
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico pode ser realizado com base na história familiar de doença renal, alterações nos exames de sangue e de urina, biópsia renal, resposta ao tratamento instituído e/ou painel genético.
Nos casos de suspeita de GESF sempre são realizadas biópsia do rim.
Se suspeita de doença do colágeno IV ou doença da membrana basal fina, nem sempre é necessário. Devendo avaliar caso a caso.
Esse diagnóstico costuma ser realizado pelo médico nefrologista. Dra Bruna Rodrigues é nefrologista pelo Hospital das Clínicas da USP-SP.
Qual o tratamento?
O tratamento consiste em medidas para controlar a perda de proteína na urina. Isso pode ser realizado através de:
- Controle da pressão arterial
- Introdução de medicações que possuem potencial de reduzir a perda de proteína na urina
- Controle de outras comorbidades, se presentes: obesidade, diabetes
Nesse caso é importante discutirmos o planejamento familiar em conjunto com o paciente e sua família, abordando o risco dos filhos também nascerem com a doença.
As informações foram aproveitadas.